A Antropologia Linguística e as contribuições de Franz Boas:
No início da Ciência Linguística, o papel cultural da língua não era considerado. Essa mudança de percepção ocorreu a partir dos estudos de Franz Boas, que compreendeu que para estudar uma língua era necessário deixar de lado a visão etnocêntrica.
Segundo Duranti (Duranti:2001):
Se quisermos compreender o papel da língua na vida das pessoas, precisamos ir além do estudo de sua gramática e entrar no mundo da ação social, onde as palavras são encaixadas e constitutivas de atividades culturais específicas, tais como, contar história, pedir um favor, mostrar respeito, insultar[...]
Desta forma, a Antropologia Linguística veio para estudar o papel das línguas nas sociedades.
(...)Franz Boas postulava:
• A teoria dos universais lingüísticos (acreditava que existiam características comuns em todas as línguas).
• Discordava com o que dizia o determinismo lingüístico. Para Boas, as habilidades individuais não eram influenciadas pela cultura e aparentes diferenças lingüísticas não implicavam em diferenças cognitivas, mas em características próprias de cada cultura. Cita, para isso, a língua dos papua na Nova Guiné, que não contém símbolos lingüísticos para números maiores que 4, o que não revela, porém, uma inabilidade cognitiva de seus falantes, mas apenas uma característica própria da cultura em não necessitar do conceito.
• A linguagem categoriza o pensamento já existente, mas não o determina.
• Grande parte da construção da linguagem ocorre de maneira inconsciente.
• O falante não tem consciência da estrutura da língua que fala.
A hipótese Sapir-Whorf:
A hipótese Sapir-Whorf mostra que a língua modela a representação do mundo de cada falante.Whorf formula, então, o princípio da relatividade linguística: há tantas maneiras de representar o mundo, de categorizar a realidade quantas são as línguas existentes.
#Relativismo linguístico:
- As línguas são intraduzíveis;
- As línguas são únicas e incomparáveis;
Exemplos:
- Não há tradução para a palavra “saudade” em inglês.
- Não há tradução em espanhol, russo ou italiano para a cor “azul”.
- Em espanhol, há “esquina” que significa canto interno e
“rincon” que significa canto externo. Somente com duas ou
mais palavras conseguimos representá-las em português.
- Em espanhol, há “esquina” que significa canto interno e
“rincon” que significa canto externo. Somente com duas ou
mais palavras conseguimos representá-las em português.
Determinismo linguístico forte x Determinismo linguístico fraco:
- Determinismo forte: A linguagem determina o pensamento (É impossível haver pensamento sem a linguagem, já que ela o determina)
- Determinismo fraco: A linguagem influencia o pensamento.
Empréstimo linguístico
É a adoção de palavras pertencentes a outros idiomas. Exemplos: Pizza, mouse, outdoor, E-mail, shopping, hardware, software, bullying.
Tradução por empréstimo
É a aquisição de uma forma léxica
ou locução de uma outra língua, através da substituição por uma palavra ou expressão com significação
equivalente ou "ao pé da letra".
Exemplos: Ação afirmativa (Affirmative action), Cópia de segurança (Backup)
Lacunas lexicais x Lacunas conceituais
Lacuna conceitual ou Lacuna cultural: Quando, na tradução, ocorre divergência entre um conceito lexicalizado numa língua-fonte e uma língua-alvo. O conceito "frutos secos", por exemplo, lexicalizado no Inglês por "nut", não é conhecido pelos falantes do francês e do alemão (CRUSE, 2004).
Lacuna lexical: Quando, na tradução, ocorrem divergências denotativas ou conotativas. Esse é o
caso, por exemplo, do conceito "menino na terceira infância e na puberdade aproximadamente dos sete aos treze anos", lexicalizado no italiano por "fanciullo", e que, no
Português brasileiro, por exemplo, aproxima-se do conceito "criança do sexo masculino", lexicalizado por "menino" e "garoto".
caso, por exemplo, do conceito "menino na terceira infância e na puberdade aproximadamente dos sete aos treze anos", lexicalizado no italiano por "fanciullo", e que, no
Português brasileiro, por exemplo, aproxima-se do conceito "criança do sexo masculino", lexicalizado por "menino" e "garoto".
--> Não há unidades lexicais em uma dada língua que expressam um conceito lexicalizado em outra língua.
Referências
- Lingüística Histórica/Antropologia Lingüística: possibilidades interdisciplinares
Genésio Seixas Souza (UNEB)
Genésio Seixas Souza (UNEB)
- FIORIN, José Luiz. Língua, discurso e política. Alea [online]. 2009, vol.11, n.1, pp. 148-165
- A interlíngua da base lexical bilíngue REBECA - Ariani Di Felippo (DL/UFSCar)/Bento Carlos Dias-da-Silva (FLC/UNESP/Ar.)