segunda-feira, 16 de maio de 2011

História do Pensamento Linguístico

Que tal aprender algumas coisinhas legais acerca da linguagem?

Para começar, vamos definir cada termo do nosso objeto de estudo:

História – É uma narrativa contada em sequência temporal. Tem a ver com campos de conhecimento, com povos, com acontecimentos marcantes.

Pensamento – É uma Idéia, uma reflexão, uma consideração acerca de alguma coisa.

Como é que nós podemos traduzir o que estamos pensando? Nós podemos traduzir usando a Linguagem. Pode ser linguagem verbal, não verbal, expressão corporal, artes, etc.

Essa capacidade de simbolizar é inerente à condição humana e as práticas sociais estão ligadas à ela. Por quê? Porque as práticas sociais se organizam em sistemas de signos para transmitir a cultura. Vamos explorar melhor a afirmação?

O que é um signo?

Ferdinand de Saussure trouxe contribuições importantíssimas para a Linguística, como teorias acerca da língua e da fala (langue e parole). Para Saussure, a língua é uma coisa imposta ao indivíduo e a fala é um ato particular. Sendo assim,

Signo = Significante + Significado

Onde o significado é o valor, o sentido, o conteúdo semântico e o significante é a manifestação fônica do signo. Sendo assim, toda palavra que possui um sentido é considerada um signo lingüístico. Quer um exemplo?

Cadeira.

Percebemos que há a união de som, conceito e escrita, ou seja, significado e significante. Portanto, “cadeira” é um signo lingüístico.

Roland Barthes, assim como Ferdinand de Saussure, notou que o signo é composto de um significante e de um significado e acrescentou que

o plano dos significantes constitui o plano de expressão e o dos significados o plano de conteúdo. (BARTHES, 1991, p. 43).

O que é um sistema de signos?

Um sistema é constituído pela relação dos elementos de um conjunto. Então isso quer dizer que um sistema de signos é um conjunto de signos que se relacionam? Existe interação do significante e do significado? Veja:

Os termos implicados no signo lingüístico são ambos psíquicos e estão unidos, em nosso cérebro, por um vínculo de associação. (...) O signo lingüístico une não uma coisa e um palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. (...) O signo lingüístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces (...) Esses dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro. (Saussure, 1970:79-80 - Grifos meus).

Veja a imagem abaixo:

Como você sabe que o que está representado na imagem é uma cadeira? Porque há relação entre o significante (a expressão) e o significado (conteúdo).

Então... A linguagem é um sistema!

Sim, a linguagem é um sistema porque serve como meio de comunicação de idéias ou sentimentos através de signos sonoros, gráficos, gestuais etc. A natureza dos signos caracteriza o tipo de linguagem (visual, corporal, gestual...).

Mas não confunda língua e linguagem!

Linguagem é qualquer forma de se comunicar através de signos visuais, auditivos, corporais e principalmente signos verbais.

A Língua é um conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, é um sistema com regras próprias.

Voltando a nossa afirmação, “As práticas sociais se organizam em sistemas de signos para transmitir a cultura.”, podemos concluir que a relação entre os homens dentro de uma sociedade é mediatizada pelos signos. Os signos são convenções sociais. Afinal, todos do nosso grupo social sabem que uma cadeira se chama cadeira, né? ;)

Prosseguindo...

A Lingüística é a ciência que estuda os signos Lingüísticos. A Lingüística faz parte da Semiótica, que também estuda signos. Mas qual é a diferença entre as duas?

Simples demais! A Lingüística se restringe ao estudo dos signos da linguagem verbal e a Semiótica é o estudo mais amplo dos signos, envolvendo Artes visuais, Fotografia, Vestuário, Gestos, etc.

A língua natural (materna) é o primeiro mecanismo de socialização do individuo. Ao mesmo tempo em que uma pessoa aprende sua língua, ela aprende também os valores, o comportamento, a ideologia do seu grupo social. – Isso explica porque minha prima de 6 anos já fala coisas do tipo “caraca, maluco!” e “E o Kiko? Casou com a Kika, teve 3 kikinhos e saiu kikando para a kikolândia” (?) – Também explica porque o meu cunhado vive dizendo coisas do tipo “Viva o Linux!”; É isso que dá viver num ambiente de nerds adeptos do Software Livre rs.

Apesar de representar os valores, o comportamento, as gírias, a ideologia de um grupo social, as línguas naturais não representam diretamente a realidade. Elas representam apenas aspectos das experiências vividas por cada povo, e essas experiências não são as mesmas de uma região para outra. Vamos entender isso melhor: Pense nas gírias, que também fazem parte da identidade cultural de um povo. No Rio Grande do Norte, por exemplo, é comum os homens utilizarem expressões do tipo “Nossa, que bicha boa!”, enquanto aqui no Rio de Janeiro, na hora da “azaração” os homens dizem: “Que mina gostosa,meu!”.

Outro exemplo que eu posso citar para convencê-los de que as línguas naturais são aspectos isoladas de cada povo é o fato de “não existir” a palavra SAUDADE em Inglês. Em Inglês, utiliza-se MISS, por exemplo: “I miss you”. Miss, na verdade significa: “perder" ou "sentir falta”, o que não é tão bonito quanto saudade: “Recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas que se deseja voltar a ver ou possuir.” Explicação para isso? As línguas repartem, de maneiras diferentes, os mesmos domínios práticos e conceituais. Parabéns! Você acabou de conhecer a Teoria de valor, de Saussure! :)

Para Saussure, a relação entre significante e significado deve ser considerada à luz do sistema lingüístico em que o signo se insere, e não nas situações práticas em que a língua intervém ou das realidades extralingüísticas de que permite falar. Essa recomendação vai no sentido de uma lingüística imanentista, ou seja, uma lingüística que procura minimizar as relações que a língua mantém com o mundo. Vai também no sentido de dar prioridade lógica às relações que se estabelecem no interior do sistema, e não às unidades entre as quais essas relações se estabelecem. (O estruturalismo Linguístico, Rodolfo Ilari, P.64)

Daí passa-se a outro princípio saussureano, o da arbitrariedade das línguas, que pode ter dois sentidos diferentes:

O primeiro é aquele que as pessoas usam quando especulam sobre a forma e a história de certas palavras, perguntando se entre os sons e os objetos significados há algum tipo de semelhança (O estruturalismo Linguístico, Rodolfo Ilari, P.64)

Saussure desenvolveu também um segundo conceito de arbitrariedade, bem mais radical, que resulta diretamente da concepção de signo lingüístico como unidade de natureza opositiva. (...) Uma vez estabelecido que toda língua relaciona sons e sentidos articulando-os mediante uma forma, a forma adotada para realizar essa articulação varia de uma língua historicamente dada, para outra.(O estruturalismo Linguístico, Rodolfo Ilari, P.64 – Grifos meus)

Anoção radical de arbitrariedade tem tudo a ver com a noção de valor lingüístico (...) Cada língua organiza seus signos através de uma complexa rede de relações que não será reencontrada em nenhuma outra língua. (...) Para quem quiser um exemplo mais ilustre, (...) vale a distinção entre as palavras latinas Níger e ater; ambas significavam “preto” (ou “negro”), mas havia entre elas uma diferença relacionada a brilho. (Níger significava o negro “brilhante”, ao passo que ater significava o negro “opaco” (O estruturalismo Linguístico, Rodolfo Ilari, P.64 – Grifos meus)

“Dizer que as línguas historicamente dads são arbitrarias significa, no casão, que não há nada que impeça duas línguas – mesmo duas línguas da mesma família, como o português e o latim – de segmentar a realidade de modos diferentes, aplicando conjuntos diferentes de signos a uma mesma realidade objetiva”.

Por isso que a Lingüística é uma ciência interdisciplinar, envolvida com a antropologia, a sociologia, a teoria literária, a psicanálise, etc.

Ainda há quem faça confusão entre lingüística, filologia e gramática. Mas não os leitores do meu blog, por favor!!! :P

Filólogo é quem estuda textos antigos.

Lingüista é quem estuda a modalidade escrita e oral e as variações lingüísticas.

Gramático é quem estuda a norma culta da língua. (Seu estado canônico)

No próximo Post vamos estudar um pouquinho sobre como foi o estudo da lingüística em diferentes períodos da história, como o período Medieval, o período Alexandrino, a Renascença e os séculos posteriores.

Um comentário:

  1. Oi, Raquel! Muito legal o seu blog! Amo liguística e aqui o estudo está ainda mais atrativo!

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